Primeiro de tudo: é a decisão médica que avalia riscos, benefícios da intervenção e escolhe o tipo dentre as quatro existentes.
Gastroplastia, também chamada de Cirurgia Bariátrica, Cirurgia da Obesidade ou ainda de Cirurgia de redução do estomago, é, como o próprio nome diz, uma plástica no estômago (gastro = estômago, plastia = plástica), que tem como o objetivo reduzir o peso de pessoas com o IMC muito elevado.
Esse tipo de cirurgia está indicado, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) para pacientes com IMC acima de 35 Kg/m², que tenham complicações como apneia do sono, hipertensão arterial, diabetes, aumento de gorduras no sangue, problemas articulares, ou pacientes com IMC maior que 40 Kg/m², que não tenham obtido sucesso na perda de peso com outros tratamentos.
Parte de um programa de emagrecimento do qual faz parte uma equipe multidisciplinar de profissionais da saúde, a cirurgia bariátrica revolucionou a forma como se trata a obesidade. Não é à toa que, no final do ano passado, o Ministério da Saúde reduziu de 18 para 16 anos a idade mínima para realizar o procedimento pelo SUS, visto que o excesso de peso considerado prejudicial à saúde tem se tornado uma epidemia que atinge pessoas cada vez mais jovens.
Existem três tipos básicos de cirurgias bariátricas. As cirurgias que apenas diminuem o tamanho do estômago, são chamadas do tipo restritivo (Banda Gástrica Ajustável, Gastroplastia vertical com bandagem ou cirurgia de Mason e a gastroplastia vertical em “sleeve”). A perda de peso se faz pela redução da ingestão de alimentos. Existem, também, as cirurgias mistas, nas quais há a redução do tamanho estomago e também um desvio do trânsito intestinal, havendo desta forma, além da redução da ingestão, diminuição da absorção dos alimentos. As cirurgias mistas podem ser predominantemente restritivas (derivação Gástrica com e sem anel) e predominantemente disabsortivas (derivações bileopancreáticas). Entretanto, são quatro as técnicas diferentes de realizá-las reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM): Banda Gástrica Ajustável, Gastrectomia Vertical, Bypass Gástrico e Derivação Bileopancreática. Para saber como cada um funciona, portanto, conversamos com uma equipe de experts para esclarecer tudo sobre o assunto. Confira:
1. Quais os pré-requisitos para indicação de cirurgia para tratamento da obesidade?
"A indicação da cirurgia, independente da técnica, é baseada em quatro fatores: grau de obesidade, tempo de evolução da doença, tentativas de tratamentos anteriores e a presença de doenças associadas", explica o cirurgião do aparelho digestivo Denis Pajecki, membro do Departamento de Cirurgia Bariátrica da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).
2. O que define a escolha de uma ou outra técnica?
Primeiramente, é necessário reforçar que a escolha da técnica a ser usada é do médico e não do paciente, afirma o cirurgião bariátrico Almino Ramos, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). "Só ele saberá avaliar qual o melhor procedimento para tratar a obesidade e possíveis doenças associadas, como diabetes, sem oferecer grandes riscos ao paciente", aponta. Um paciente que precisa perder muito peso, por exemplo, deveria ser submetido ao tipo de cirurgia bariátrica mais invasivo, pois ele resulta em uma perda maior da porcentagem de peso. Se esse paciente apresentar idade avançada, entretanto, o médico pode optar por um procedimento menos complexo para não colocar a vida do indivíduo em risco. "A escolha é feita caso a caso e depende de inúmeras variáveis", complementa.
Apesar de cada caso precisar ser avaliado individualmente, a todos aqueles irão realizar a cirurgia devem ser submetidos a uma avaliação clínico-laboratorial a qual inclui além da aferição da pressão arterial, dosagens da glicemia, lipídeos sanguíneos, e outros exames sanguíneos, avaliação das funções hepática, cardíaca e pulmonar. A endoscopia digestiva e a ecografia abdominal são importantes procedimentos pré-operatórios. A avaliação psicológica também faz parte dos procedimentos pré-operatórios. Pacientes com instabilidade psicológica grave, portador de transtornos alimentares (como, por exemplo, bulimia), devem ser tratados antes da cirurgia.
3. Qual o tipo mais complexo e o menos invasivo?
Segundo explica o cirurgião bariátrico Almino, a cirurgia bariátrica com Banda Gástrica Ajustável é a mais simples de todas e, consequentemente, a que leva a menor porcentagem de perda de peso. Em segundo lugar, vem a Gastrectomia Vertical, que já inclui corte, sutura e uso de grampos. Depois dela, a mais complexa é a cirurgia bariátrica com Bypass Gástrico que além da redução do estômago também cria um desvio no intestino do paciente. Por fim, a que leva a maior porcentagem de perda de peso, mas que também é a mais complexa é a cirurgia com Derivação Bileopancreática, pois o desvio do intestino é maior do que o da anterior.
4. Quanto tempo dura cada procedimento?
O tempo de duração de cada tipo de cirurgia bariátrica varia de acordo com as condições do paciente, de possíveis complicações e do médico que realizará o procedimento. De forma geral, entretanto, o cirurgião bariátrico Almino aponta que a banda gástrica leva cerca de 30 minutos, a gastrectomia vertical em torno de uma hora, o by-pass por volta de uma hora e meia e a derivação bileopancreática cerca de duas horas e trinta minutos.
5. Qual a anestesia usada em cada tipo de cirurgia bariátrica?
Segundo o endocrinologista Josivan Lima, membro do departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a cirurgia bariátrica pode ser uma cirurgia aberta ou realizada por vídeo-laparoscopia e, portanto, requerem o uso de anestesia geral.
6. Como ocorre a perda de peso?
De acordo com o cirurgião do aparelho digestivo Denis, a perda de peso ocorre por conta da restrição alimentar a que o paciente é submetido com a cirurgia, a menor absorção de nutrientes e do aumento do metabolismo.
Banda Gástrica há perda de 20 a 30% do peso inicial;
Gastrectomia Vertical, 30 a 40% do peso inicial;
Bypass é possível perder de 40 a 45% do peso inicial, e
Derivação Bileopancreática, o paciente perde de 40 a 50% do peso inicial.
7. Todos os tipos de cirurgia bariátrica ajudam no controle do diabetes tipo 2?
"Pacientes com obesidade e diabetes tipo 2 que se submetem a qualquer um dos tipos de cirurgia bariátrica apresentam melhora do quadro de diabetes, pois a própria gordura gerava resistência à ação da insulina", aponta o endocrinologista Josivan. Se o controle será total ou parcial, depende de inúmeros fatores, como idade, gravidade do diabetes, tempo de convivência do paciente com o problema, etc. De modo geral, as cirurgias com desvio intestinal (Bypass Gástrico e Derivação Bileopancreática) são as mais eficazes no controle da doença por meio do estímulo à produção de hormônios.
8. Como é o pós-operatório?
"Depois que a cirurgia bariátrica passou a ser feita com vídeo-laparoscopia, a recuperação do paciente melhorou muito, pois as incisões de 15 ou 20 centímetros, passamos a quatro ou cinco furinhos de um centímetro cada no abdômen", aponta o cirurgião bariátrico Almino. Assim, o tempo de internação costuma durar dois ou três dias e atividades rotineiras podem ser retomadas após um período de 10 dias. Carregar muito peso ou fazer exercícios intensos são liberados apenas depois do primeiro mês.
Em relação à dieta, há algumas recomendações básicas também. Na primeira semana, o paciente deve se alimentar apenas com líquidos. Na segunda, as refeições se tornam mais cremosas. Na terceira, podem ser consumidos alimentos com a consistência de um purê. A partir da quarta semana, começam a ser introduzidos alimentos sólidos na dieta. O objetivo é que o paciente tenha uma dieta equilibrada a partir das fases de adaptação. A suplementação costuma ser necessária também e deve ser alinhada com o profissional que participa do programa de emagrecimento do paciente.
Na maioria dos casos, com a cirurgia bariátrica, além de perder grande quantidade de peso, o paciente tem os benefícios da melhora, ou mesmo cura, do seu diabetes, controle da pressão arterial, dos lipídeos sanguíneos, dos níveis de ácido úrico, alívio das dores articulares.
Do ponto de vista nutricional, os pacientes submetidos à cirurgia bariátrica deverão ser acompanhados por longo tempo, com objetivo de receberem orientações específicas para elaboração de uma dieta qualitativamente adequada. Quanto mais disabsortiva for a cirurgia, maior a chance de complicações nutricionais, como anemias por deficiência de ferro, de vitamina B12 e/ou ácido fólico, deficiência de vit D e cálcio e até mesmo desnutrição, nas cirurgias mais radicais. Reposições vitamínicas são feitas após a cirurgia e mantidas por tempo indeterminado. A diarreia pode ser uma complicação nas cirurgias mistas, principalmente na derivação bileopancreática.
9. Há risco de engordar novamente?
De acordo com o cirurgião do aparelho digestivo Denis, uma recuperação de 10 a 15 quilos do peso mínimo atingido é considerado normal. "Ganhos mais acentuados estão, na maior parte das vezes, relacionados ao abandono do programa e à adoção de maus hábitos, como consumo excessivo de carboidratos e intervalos grandes em jejum", explica.
A adesão ao tratamento deverá ser avaliada, uma vez que pacientes instáveis psicologicamente podem recorrer a preparações de alta densidade calórica, de baixa qualidade nutricional, que além de provocarem hipoglicemia e fenômenos vasomotores (sudorese, taquicardia, sensação de mal-estar), colocam em risco o sucesso da intervenção à longo prazo, porque reduzem a chance do indivíduo perder peso.
Observações:
A cirurgia antiobesidade é um procedimento complexo e apresenta risco de complicações. A intervenção impõe uma mudança fundamental nos hábitos alimentares dos indivíduos. Portanto, é primordial que o paciente conheça muito bem o procedimento cirúrgico e quais os riscos e benefícios da cirurgia. Desta forma, além das orientações técnicas, o acompanhamento psicológico e o apoio da família são aconselháveis em todas as fases do processo.
Em alguns casos, uma cirurgia plástica para retirada do excesso de pele é necessária. A mesma poderá ser feita quando a perda de peso estiver totalmente estabilizada, ou seja, depois de aproximadamente dois anos.
Mulheres que realizam cirurgia bariátrica devem aguardar pelo menos 15 a 18 meses antes de engravidar. A grande perda de peso logo após a cirurgia pode prejudicar o crescimento do feto.
A Banda Gástrica é um dispositivo de silicone colocado no começo do estômago. Ela fica ligada a uma espécie de reservatório no qual é possível injetar água destilada para apertar mais o estômago ou esvaziar para aliviar a restrição. A vantagem do método é o fato de ele ser reversível, pouco invasivo, o que reduz a mortalidade, e permite ajustes individualizados. Por outro lado, há risco de rejeição da prótese ou infecção e a perda de peso é, muitas vezes, insuficiente para que a saúde do paciente seja considerada estável. Ela é inadequada ainda para pacientes com compulsão por doces, portadores de esofagite de refluxo e hérnia hiatal volumosa. Ela corresponde a 5% dos procedimentos.
A Gastrectomia Vertical remove de 70 a 85% do estômago do paciente, transformando-o em um tubo estreito. Desta maneira, há redução do hormônio grelina, associado à fome e a absorção de ferro, cálcio, zinco e vitaminas do complexo B não é afetada. Se não funcionar, pode ser transformada em Bypass Gástrico ou Derivação Bileopancreática, mas não é reversível, como a Banda Gástrica. Além disso, por envolver procedimentos mais complexos também está ligada a um risco maior de complicações. Corresponde a 15% dos procedimentos.
O Bypass Gástrico diminui para 10% a capacidade do estômago, restringindo a quantidade de comida ingerida e desviando esses alimentos para a primeira porção do intestino, chamada duodeno, até a porção intermediária do órgão, chamada jejuno. Dessa maneira, há redução do hormônio grelina, responsável pela fome e liberação de hormônios próprios do intestino que promovem saciedade. Com ele, o apetite do paciente é reduzido praticamente sem diarreia e desnutrição, e doenças associadas à obesidade apresentam rápida melhora. Os riscos incluem fístulas, embolia pulmonar e infecções. O Bypass corresponde a 75% dos procedimentos.
A Derivação Bileopancreática é uma associação da Gastrectomia Vertical, com 85% do estômago retirado, com desvio intestinal. Esse desvio faz com que o alimento venha por um caminho e os sucos digestivos (bile e suco pancreático) venham por outro e se encontrem somente a 100 cm de acabar o intestino delgado, inibindo a absorção de calorias e nutrientes. A vantagem é que a técnica possibilita maior ingestão de alimentos, reduz a intolerância alimentar e promove maior perda de peso. Por outro lado, pode ocorrer desnutrição de intensidade variável ao longo do tempo. Diarreia, flatulência e deficiência de vitaminas também são comuns. A Derivação Bileopancreática corresponde a 5% dos procedimentos.
Saiba que você precisará de uma boa drenagem linfática para melhor recuperação; para saber mais... veja as matérias anteriores clicando aqui 1 e 2.
Fonte:
http://www.minhavida.com.br/saude/galerias/16071-escolha-do-tipo-de-cirurgia-bariatrica-depende-do-peso-e-da-saude-do-paciente/2
http://www.endocrino.org.br/10-coisas-que-voce-precisa-saber-sobre-cirurgia-bariatrica/
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